Como surgiram as notas musicais? | Musixe.com

Thiago Rocioli
Da Redação/Musixe

As notas musicais, como as conhecemos hoje, têm uma longa história de desenvolvimento ao longo dos séculos. Tratam-se de códigos que permite aos músicos representar graficamente os sons que devem ser executados.

Ao longo das eras, culturas diversas moldaram a experiência musical de maneiras únicas, forjando técnicas e teorias que deram forma a padrões de composição e concepções melódicas. Na Grécia Antiga, por exemplo, já se insinuavam vislumbres de partituras embasadas em sistemas intricados, onde o alfabeto grego desenhava as linhas da melodia.

À medida que o tempo avançava, distintas civilizações ansiavam por decifrar fórmulas de representação e divulgação de suas composições musicais. Nesse cenário efervescente, surgiram as notas musicais. Os primeiros sistemas de notação remontam à antiguidade. Os gregos antigos usavam letras do alfabeto para representar diferentes notas musicais. Os romanos também tinham um sistema semelhante. Durante a Idade Média, com o desenvolvimento da música litúrgica na igreja cristã, foram criadas notações específicas para representar a melodia e os ritmos. É deste período que surge o termo Gospel, derivada do inglês antigo, onde “god-spell” significava “good news” (boas novas) em português. A palavra “god-spell” foi posteriormente combinada para formar “gospel”. Essa mudança linguística ocorreu durante a tradução da Bíblia para o inglês antigo.

Com o Renascimento, a notação musical tornou-se mais sofisticada. O sistema de notação de cinco linhas (pauta) começou a ser amplamente utilizado, e foram introduzidas as figuras de notas que ainda usamos hoje, como a semibreve, a mínima, a semínima, etc.

Durante o período barroco, houve um refinamento adicional da notação musical. Compositores como Johann Sebastian Bach contribuíram para o desenvolvimento de convenções de notação mais padronizadas.

E poucas mudanças significativas foram registradas durante o Período Clássico e Romântico. No entanto, o repertório musical expandiu-se enormemente, e a notação tornou-se uma ferramenta essencial para a comunicação musical entre compositores e músicos.

As notas musicais não emergiram como descobertas. São, na verdade, convenções, códigos preestabelecidos destinados a guiar os músicos através das partituras. Cada cultura, cada povo, pode conferir suas próprias nuances às notas musicais, marcando-as com distintivos particulares. A organização das partituras, por sua vez, pode variar conforme as tradições que a permeiam. Em essência, as origens das notas musicais remontam à Idade Média, época em que a música conquistava espaço, especialmente entre os clérigos da era.

Nesse contexto, emerge Guido de Arezzo, monge beneditino italiano do século XI, como o arquiteto de um sistema de notação musical que perdura até hoje. A criação desse sistema se desenrolou enquanto Guido laborava no mosteiro de Pomposa. Ao constatar as dificuldades enfrentadas pelos cantores gregorianos para memorizar cânticos sacros, Guido percebeu na música um recurso poderoso para atrair os fiéis, muitos dos quais eram analfabetos.

Em seus estudos, Guido concebeu uma escala musical simplificada para facilitar o aprendizado dos estudantes, reduzindo erros de interpretação.

Num momento brilhante de insight, Guido de Arezzo idealizou um sistema para recordar as notas, recorrendo a um hino popular da época, o Hino a São João Batista. As sílabas iniciais de cada verso desse hino foram “transformadas” em notas musicais, dando origem às conhecidas ut, ré, mi, fá, sol, lá, e o si, originado das iniciais do nome do santo (Sancte Iohannes). Séculos depois, em 1693, o ut foi substituído pelo dó devido à sua difícil pronúncia no solfejo. Contudo, em alguns países, como na França, o ut continua a ser chamado de primeira nota da escala musical.

O século XX viu algumas inovações na notação musical, especialmente com o surgimento da música experimental e contemporânea. Compositores como John Cage desafiaram as convenções tradicionais de notação.

Atualmente, as notas musicais são representadas por símbolos específicos colocados na pauta musical, indicando a altura, a duração e outros aspectos da execução musical. Este sistema de notação, embora tenha evoluído ao longo da história, é fundamental para a prática musical em todo o mundo.