Sabia que algumas pessoas não sentem nada ao ouvirem música? Entenda por que | Musixe.com

Thiago Rocioli
Da Redação/Musixe

Enquanto que para algumas pessoas ouvir música provoca inúmeras sensações como euforia, arrepio, querer dançar ou até mesmo emoção por trazer algumas lembranças; para outras, essa experiência vibrante é um vazio que vai muito além de um mero “não gostar” de música. É uma ausência total de prazer em ouvir qualquer tipo de canção. E a ciência explica o por quê.

Estamos falando da anedonia musical, doença que atinge cerca de 5% da população mundial. Quando ouvimos uma música que nos agrada, uma série de eventos neuroquímicos acontece. O sistema de recompensa do cérebro, uma rede complexa de estruturas entra em ação, liberando dopamina – o hormônio do prazer. É ela que nos impulsiona a sentir uma onda de satisfação quando ouvimos nossa música favorita. Porém, para quem é diagnosticado com anedonia musical, isto é indiferente.

Geralmente quem gosta de música tende a ir a um show ou até em um concerto. Já quem tem anedonia musical pode preferir não interagir com outras pessoas. Em entrevista a Musixe, o neurologista Oilson Boscato, especialista em quiropraxia pelo instituto Muller PO (RS), medicina tradicional Chinesa, acupuntura pela ETRF de Ribeirão Preto (SP), Fisioterapia pela Estácio de Natal (RN) e Neurociência da dor, explicou que existem pacientes que nascem com a anedonia musical. Já outros a adquirem por diversos fatores. “Como, por exemplo, um AVC (Acidente Vascular Cerebral), algum trauma, doenças neurodegenerativas ou psiquiátricas”, disse.

Já quem nasce com anedonia congênita, por exemplo, apresenta baixa responsividade afetiva, autiva e desinteresse musical. “Mas só um diagnóstico médico mais preciso para saber o que ocorre. Existem pessoas que ao escutarem uma música um pouco mais acelerada ou mais lenta, aquilo se torna um ruído irritante. Você pode ter ausência de prazer por um tipo de música específica e o contexto social em que o indivíduo esteja inserido também influencia isso. Geralmente quem gosta de música tende a ir em um show, concerto. Já quem tem anedonia musical pode até não querer interagir com outras pessoas e viver de maneira mais isolada”, explicou o médico Oilson Boscato.

Um estudo publicado em 2014 na revista Current Biology, liderado por Josep Marco-Pallarés e Robert Zatorre da Universidade McGill no Canadá, investigou a anedonia musical específica. Eles recrutaram indivíduos que relataram não sentir prazer com a música, apesar de terem percepção musical normal (ou seja, conseguiam identificar melodias e ritmos).

Usando ressonância magnética funcional (fMRI), os pesquisadores observaram que, enquanto ouviam música agradável, o grupo com anedonia musical mostrava menor ativação no núcleo accumbens – uma área chave do sistema de recompensa. Curiosamente, quando esses mesmos indivíduos jogavam que envolvia recompensa em dinheiro, a atividade em seu núcleo accumbens era normal, sugerindo que a disfunção é específica para a música.

Outros estudos aprofundaram essa compreensão. Pesquisadores da Universidade de Barcelona, por exemplo, identificaram que pessoas com anedonia musical também podem apresentar diferenças na conectividade entre o córtex auditivo (que processa os sons) e o córtex pré-frontal medial (envolvido na avaliação de valor e na previsão de recompensas). É como se o “caminho” que a informação musical deveria percorrer para gerar prazer estivesse, de alguma forma, menos eficiente ou bloqueado.

“Essas experiências mostram a interpretação cérebro faz a partir destes estímulos”, concluiu o neurocientista Boscato. a anedonia musical ainda está sendo investigada, mas estima-se que afete de 3% a 5% da população mundial, o que equivale a aproximadamente 350 milhões de pessoas,. É importante notar que ela não é sinônimo de transtornos depressivos, embora a anedonia generalizada (incapacidade de sentir prazer em diversas áreas da vida) seja um sintoma comum da depressão.