Ney Matogrosso, Kiss e a arte de desafiar padrões | Musixe.com

✍️Thiago Rocioli Da Redação/Musixe
📸 Dri Spaca/Papelpop

A música é uma forma de comunicar identidade, atitude e visão de mundo. Mais do que seguir padrões, ela permite expressar o que somos. E poucos artistas personificam essa máxima tão bem quanto aqueles que ousam ir além, desafiando convenções e criando linguagens visuais que se tornam tão icônicas quanto sua sonoridade.

Neste sentido, Kiss e Ney Matogrosso (e por extensão, os Secos e Molhados), inevitavelmente, são ícones (também) neste aspecto. Além disso, há a instigante polêmica sobre a possível influência mútua em seus visuais. Quando falamos em bandas que desafiaram padrões e viraram ícones através de um visual impactante, o Kiss surge imediatamente na mente. Classificados entre o Hard Rock, Glam Rock e Heavy Metal, eles redefiniram a experiência de um concerto musical.

A base sonora do Kiss é potente e inconfundível, com linhas de guitarra que grudam na memória.
Batidas fortes e refrões pegajosos: Suas músicas são construídas para levantar o público, com uma energia contagiante. Maquiagens, personagens e figurinos: este é, sem dúvida, o grande diferencial do Kiss. Cada membro da banda assumia uma persona (Starchild, Demon, Spaceman, Catman), com maquiagens elaboradas e figurinos glamourosos que transformavam cada apresentação em um espetáculo grandioso.

A influência musical do Kiss reside precisamente nessa fusão audaciosa: misturaram o rock pesado com elementos visuais do teatro e da cultura pop. Eles entenderam que a experiência musical podia ser elevada a um novo patamar através da performance, do espetáculo e da construção de uma identidade visual forte e memorável. Da mesma forma, do outro lado do Atlântico, no efervescente cenário musical brasileiro, surge uma figura igualmente revolucionária: Ney Matogrosso. Sua trajetória, seja solo ou à frente dos Secos e Molhados, é um testemunho da capacidade da música de romper barreiras e expressar a individualidade de forma radical.

Ney Matogrosso transita por diversos gêneros, como MPB, Glam Rock, Psicodelia, Samba e Experimental, demonstrando uma versatilidade e uma ousadia rítmica impressionantes. Ney possui um timbre vocal único e uma capacidade de modulação que o tornam um dos maiores cantores brasileiros. E utiliza todo o seu corpo para expressar a emoção e a mensagem da letra. Suas performances são verdadeiros espetáculos teatrais.

A influência musical de Ney Matogrosso e dos Secos e Molhados é imensa: ele foi um dos primeiros artistas brasileiros a romper barreiras de gênero e comportamento no palco. Sua androginia, o uso de maquiagens elaboradas, penas e figurinos exóticos, desafiou frontalmente os padrões da sociedade e da música da época, abrindo caminho para a liberdade de expressão artística no Brasil.

A Polêmica do Visual: Quem Inspirou Quem?

E chegamos ao ponto mais instigante: a polêmica sobre a inspiração dos visuais de Kiss e Secos e Molhados. Há quem afirme – e rumores dizem que o próprio Ney Matogrosso já tocou no assunto em entrevistas – que o Kiss teria se “inspirado” no visual dos Secos e Molhados. A cronologia é um dos pilares dessa discussão: os Secos e Molhados ganharam grande destaque no Brasil a partir de 1973, com um visual performático e maquiagens impactantes, enquanto o Kiss começou a despontar no cenário mundial com suas maquiagens e personas a partir de 1974. A ideia de que a música brasileira, já naquela época, tinha um alcance global, reforça a possibilidade.

Polêmica à parte, o que realmente importa e merece ser ressaltado é a relevância inegável de Kiss, Ney Matogrosso e Secos e Molhados para o cenário musical mundial. Independentemente de quem inspirou quem, ou se houve inspiração mútua, o fato é que todos eles foram pioneiros em suas respectivas esferas, utilizando o visual como uma poderosa ferramenta de comunicação, identidade e impacto artístico.