Mi Sustenido ou Fá Natural? Entenda a polêmica | Musixe.com

Thiago Rocioli
Da Redação/Musixe

Mi sustenido não é Fá natural? Por que não escrever logo Fá? Seria isso um erro? De forma clara, simples e objetiva, a resposta é curta: Mi sustenido existe, sim! Já a resposta longa… bem, vamos esmiuçar a questão…

No mundo da música ocidental, temos 12 notas. Entre elas, há tons inteiros e semitons. E aí está o truque: entre Mi e Fá existe apenas um semitom, sem “nota preta” no piano. O mesmo vale entre Si e Dó. Logo, Mi sustenido é igual a Fá natural em som, mas não em função. A isso damos o nome de enarmonia — nomes diferentes para o mesmo som. Seria como se Maria e Mariá fossem a mesma pessoa, mas você só a chame de Mariá quando ela estiver brava.

Mas por que alguém usaria Mi sustenido, então? Por causa da função harmônica e da lógica tonal.

Imagine que você está em Fá sustenido maior, cuja escala é:
F# – G# – A# – B – C# – D# – E#

Sim, E sustenido. Ou seja, Mi sustenido. Usar E# (Mi sustenido) em vez de F mantém a lógica da escala: uma nota para cada grau. Se colocássemos “F”, ficaríamos com duas notas começando com F (F e F#) e nenhuma começando com E. Isso embaralha a leitura, o raciocínio tonal e deixa o regente com vontade de arremessar a batuta.

Na prática, é verdade, o som é o mesmo. Mas para quem lê partitura ou compõe pensando em estrutura, harmonia e voz condutora, o Mi sustenido tem um papel específico. Por isso, ele é comum em partituras mais avançadas, especialmente na música erudita. Em instrumentos de cordas, como o violino, E# e F exigem exatamente o mesmo posicionamento — mas no papel, são bichos diferentes.

Aliás, um estudo feito pela University of Iowa (EUA) sobre leitura musical revelou que mais de 70% dos estudantes confundem notas enarmônicas nas primeiras fases do aprendizado, justamente por acharem que se “soa igual”, é tudo igual.

Ensinar Mi sustenido é um ato de fé. Fé de que o aluno um dia vai entender que a música é uma linguagem, não uma planilha de Excel. A lógica tonal exige precisão nos nomes, mesmo que os sons sejam os mesmos. E tudo bem se ele reclamar no começo. Faz parte do processo.

Portanto, Mi sustenido existe, sim. E não, não é frescura. É teoria musical aplicada, é lógica harmônica, é amor ao detalhe. E se você achou confuso, parabéns: você está pensando como um músico de verdade.