Criança de 4 anos cai do 53º andar e inspira pai a compor uma das músicas mais tristes do mundo | Musixe.com

Thiago Rocioli
Da Redação/Musixe

O pai do menino foi um dependente do álcool por muito tempo. Chegou a fazer inúmeros tratamentos contra o vício, todos eles sem sucesso. Embora casado, em uma de suas turnês, acabou se apaixonando por outra mulher e engravidando-a.

A chegada da criança foi um divisor de águas, um farol que o guiou para longe do vício. Pela primeira vez, ele vislumbrou a possibilidade de ser o pai que nunca teve, um porto seguro para aquele pequeno ser que agora era o amor maior de sua vida.

Livre do álcool há algum tempo, ele então ligou para a mãe do filho e pediu para que ele pudesse passar um tempo com o menino. Foi a primeira vez em que pai e filho saíram juntos sozinhos. Eles passaram o dia juntos e à noite ele levou o menino de volta para o apartamento da mãe. Eles combinaram que no dia seguinte iriam sair todos juntos para o zoológico.

Porém, esta mesma vida, por vezes, nos confronta com tragédias de uma intensidade avassaladora, capazes de transformar o curso de nossa história em um antes e um depois doloroso. O que vamos narrar nos próximos parágrafos é uma destas tragédias, que inspirou uma canção que nasceu da perda irreparável, da dor imensurável.

O dia 20 de março de 1991 amanheceu com a promessa de alegria, mas se converteria em um pesadelo inimaginável. A mãe se preparava no banheiro, enquanto o pequeno brincava despreocupadamente no quarto sob os cuidados da babá. No hotel, o pai se aprontava para buscá-los. O toque estridente do telefone cortou o silêncio. Do outro lado da linha, a voz da mãe, carregada de um horror indizível: o menino estava morto.

Em um instante de fatalidade, enquanto a faxineira realizava a limpeza das janelas, em um movimento súbito, o menino correu em direção à janela, e o impensável aconteceu: a queda do 53º andar. A notícia, brutal e fria, atingiu o pai como um raio. Ele desligou o telefone e, em um estado de choque paralisante, caminhou do hotel até o prédio e passou direto por aquela cena chocante. Não teve coragem de se aproximar.

O luto o isolou em um silêncio profundo, até que um convite para compor a trilha sonora de um filme surgiu como uma frágil luz na escuridão. Naquela oportunidade, ele encontrou um canal para extravasar a dor que o consumia, as notas musicais se tornando a voz de um sofrimento mudo. Uma melodia começou a tomar forma, gestada nas entranhas da tragédia, um processo de cura através da arte.

Quem poderia imaginar que um artista considerado um dos pilares da música mundial, carregava consigo o peso da dor de ver seu filho de apenas quatro anos cair do 53º andar? Quem poderia imaginar que a tragédia, dessas capazes de nos tirar o oxigênio por algum tempo, seria inspiração para um dos hits mais lindos e mais tristes de todos os tempos da música mundial?

“Would you know my name if I saw you in Heaven?”

No refrão, a canção se transforma em um mantra de auto-consolo, a luta interna de um coração despedaçado que busca forças para seguir adiante:

“I must be strong and carry on.”

E mesmo que a alma anseie pelo reencontro celestial, a consciência de um propósito terreno ainda o ancora à vida:

“‘Cause I know I don’t belong here in Heaven.”

Essa canção, um grito silencioso de dor e esperança, é “Tears in Heaven”, uma parceria entre Eric Clapton e Will Jennings, criada para o filme “Rush – Uma Viagem ao Inferno”. A música transcendeu a tela, conquistando três Grammys e o status de uma das maiores canções de todos os tempos.

Por um período, Eric Clapton silenciou essa melodia em seus shows, a intensidade do luto original havia se esvaído, e a performance perdeu o significado visceral. Contudo, o tempo, esse mestre da cura e da memória, o levou a reencontrar a canção, a compartilhar novamente essa história de amor e perda, eternizada em notas e palavras.

“Tears in Heaven” não é apenas uma canção; é um testemunho da fragilidade da vida, da profundidade do amor paternal e da capacidade da arte de transformar a dor mais lancinante em algo de beleza comovente.