A importância do estímulo musical para os bebês desde o ventre
Thiago Rocioli
Da Redação/Musixe
A relação entre a mãe e o bebê durante a gestação é um processo profundo e multifacetado, que envolve aspectos físicos, emocionais e até auditivos. Uma das áreas mais fascinantes dessa interação é o efeito que as músicas ouvidas pela mãe têm sobre o bebê em desenvolvimento. Estudos científicos têm demonstrado que as canções ouvidas durante a gravidez podem ficar registradas no subconsciente do bebê, influenciando sua percepção sonora e emocional mesmo após o nascimento.
O sistema auditivo do feto começa a se formar por volta da 16ª semana de gestação. A partir da 25ª semana, o bebê já consegue captar sons do ambiente externo, embora de maneira amortecida pelo líquido amniótico e pelo corpo da mãe. Sons como a voz materna, os batimentos cardíacos e até músicas que a mãe ouve são percebidos pelo feto, que começa a processar essas informações auditivas de maneira rudimentar, mas significativa. Essa exposição auditiva contínua não apenas permite ao bebê identificar certos sons, mas também ajuda a construir suas primeiras memórias sensoriais.
Estudos sobre neurociência e psicologia do desenvolvimento indicam que o cérebro do feto é altamente plástico, o que significa que ele está constantemente formando novas conexões neuronais em resposta aos estímulos recebidos. Sons repetidos, como canções ouvidas com frequência pela mãe, são processados pelo cérebro do bebê, criando padrões de atividade que se reforçam ao longo do tempo. Esse processo é conhecido como potenciação a longo prazo, que é o fortalecimento das sinapses neuronais através da repetição de estímulos, como acontece quando ouvimos repetidamente uma música.
Um estudo realizado na Finlândia, por exemplo, demonstrou que bebês expostos a uma melodia específica durante o último trimestre da gestação reconheciam essa mesma melodia após o nascimento. Os pesquisadores tocaram a canção de ninar “Twinkle Twinkle Little Star” para um grupo de gestantes e, meses após o nascimento, observaram que os bebês apresentavam maior atividade cerebral ao ouvir essa música em comparação com outros bebês que não haviam sido expostos a ela no útero.
Para confirmar a tese, Aline Natal conta que durante os nove meses de gestação do filho Davi fez questão de ouvir a canção “Terra Seca”, de Fraternidade São João Paulo II. Hoje, o filho com dois anos, canta a música. “Do jeito dele, mas é lindo ver!”, completou.
Como as Canções Ficam Registradas no Subconsciente?
O registro das músicas no subconsciente do bebê ocorre devido à plasticidade cerebral. Quando o feto ouve uma música repetidamente, o cérebro associa esses sons a experiências de tranquilidade e segurança, já que eles são acompanhados pelo ambiente uterino, onde o bebê está protegido e nutrido. Assim, o sistema nervoso associa essas melodias com conforto e familiaridade, criando um “banco de memórias” que pode ser acessado após o nascimento.
Esse processo é muito semelhante ao que acontece com memórias auditivas e emocionais formadas na primeira infância. A música, em especial, ativa várias áreas do cérebro, incluindo aquelas responsáveis pela emoção, linguagem e memória. Isso significa que o bebê não apenas reconhece a música, mas também pode associá-la a sensações de bem-estar.
Na prática, muitas mães relatam que, ao tocar para seus recém-nascidos as mesmas músicas que ouviam durante a gestação, seus bebês tendem a ficar mais calmos e relaxados. Isso ocorre porque o bebê já formou uma conexão subconsciente com aquela melodia enquanto estava no útero. Um exemplo clássico é de gestantes que ouvirem músicas clássicas ou canções de ninar regularmente e, ao reproduzi-las após o nascimento, observam reações tranquilizadoras em seus bebês, como menos choro e mais facilidade para dormir.
A estimulação auditiva durante a gestação também tem implicações importantes para o desenvolvimento cognitivo. Pesquisas indicam que bebês que são expostos a estímulos musicais regulares podem ter uma base neural mais rica para o desenvolvimento de habilidades como a linguagem e a capacidade de concentração. A música ativa o córtex auditivo e áreas relacionadas à memória e às emoções, ajudando a desenvolver as vias neurais que serão importantes no aprendizado e na regulação emocional.
A relação entre a mãe e o feto durante a gestação vai além do aspecto físico; é uma troca contínua de estímulos sensoriais e emocionais. As músicas ouvidas durante a gravidez ficam registradas no subconsciente do bebê porque o cérebro fetal está em constante adaptação e formação de memórias. Esses estímulos auditivos não apenas proporcionam conforto e familiaridade ao bebê após o nascimento, mas também podem influenciar positivamente o desenvolvimento cognitivo e emocional ao longo da vida.
E aí, o que você achou?